segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Mãe espera há seis anos que ex-deputado seja julgado por acidente

O filho de Christiane Yared, Rafael, morreu em 2009, numa batida.
O carro que o atingiu era dirigido pelo ex-deputado estadual Carli Filho.

Christiane Yared aguarda há seis anos e meio por Justiça. O filho dela, Rafael de Souza Yared, de 26 anos, foi uma das vítimas de um acidente de trânsito envolvendo o ex-deputado Fernando Ribas Carli Filho. Na madrugada de 7 de maio de 2010, o carro de Carli Filho atingiu em cheio o veículo em que estava Rafael e o amigo Carlos Murilo de Almeida, de 20 anos. Os dois morreram na hora.
Em entrevista para a série de reportagens “Mães que não esquecem”, Christiane lembra da dor por não ter visto o ex-deputado julgado pelo acidente. Em depoimento à Justiça, ele reconheceu que ter bebido antes de se envolver na batida. Exames de laboratório que foram descartados durante o processo também comprovavam que ele estava embriagado. Segundo a perícia, o ex-deputado dirigia entre 161 km/h e 173 km/h, em uma via urbana pouco movimentada de Curitiba.“Fui acordada às 2h30 da manhã, com dois agentes funerários na porta do meu condomínio. Eles queriam [o número] do DPVAT. Um falava para mim, ‘mãe, seu filho está muito machucado, no hospital’.  O outro, que falava com meu esposo, dizia ‘dá uma água com açúcar para ela, o menino faleceu’.  Naquela loucura toda, você acha que aquilo não está acontecendo, realmente parece um pesadelo”, lembra ela sobre a fatídica noite.
Para Christiane, todo o processo de investigação teve brechas, que podem ter beneficiado o ex-deputado.  “Tem muitas coisas que não fecham: a questão dos radares, que sumiram todos, da imagem do posto  de gasolina, que nos foi entregue adulterada. Eu acredito que aconteceu um racha naquela noite e que a pessoa que estava envolvida é uma pessoa muito importante. Por isso que as imagens todas sumiram. É o que eu acho. Claro que teria que provar”, diz a mãe de Rafael, apontando que seria preciso conseguir as imagens que não constam na investigação.
A espera pelo julgamento também faz com que a dor siga viva na família. “As dores vão mudando. Primeiro, é a dor da revolta, aquele desespero, você precisa achar um culpado. Depois, é a dor da aceitação. Você tem que aceitar, não tem o que fazer. E depois, a dor da saudade. Não é uma coisa natural você enterrar um filho. Filhos são sonhos e sonhos, quando são enterrados, você não quer mais viver”, lamenta.
O caso contra o ex-deputado se arrasta na Justiça e sequer foi julgado em primeira instância. Os recursos da defesa, embora legais, acabam protelando o andamento do processo. A única punição que Carli Filho recebeu foi a suspensão na carteira de motorista, após o acidente. Christiane e a família buscam até hoje ver o ex-deputado julgado num júri popular. “Nós precisamos encerrar isso. Eu e meu esposo precisamos enterrar nosso filho”, afirma.
A luta fez com que Christiane entrasse para a política. Com a bandeira de defender mudanças nas leis de trânsito, ela foi eleita deputada federal em 2014, com a maior votação do Paraná. “O país que não pune não educa. O país que educa talvez não precise punir. As nossas leis não são ruins. Nós temos excelentes leis. O problema é que elas não são aplicadas”, acredita.
A mãe de Carlos Murilo de Almeida também foi procurada para falar sobre o caso, mas preferiu não se manifestar.
Já o advogado que defende Carli Filho disse que acha cedo falar em júri popular para o ex-deputado. Segundo ele, ainda existem recursos que devem ser julgados em Brasília.