terça-feira, 17 de abril de 2012

Biodiesel também empaca



Mario Eugenio Saturno

O dramático enredo desempenhado pelo etanol de cana-de-açúcar não é exceção no cenário nacional. O Plano do governo federal parece tímido demais para um país das dimensões do Brasil. A julgar pelos fatos, o governo abandonou as usinas de álcool à própria sorte, endividadas, são vendidas a preço de banana, para o capital estrangeiro. Já cansei de defender que o investimento estrangeiro deveria ser para novos projetos, sejam usinas ou plantações. Esperava mais de um governo que acusou o anterior de privatista, pior é entregar ao estrangeiro!

O desastre anunciado foi demonstrado. Apesar do mau desempenho da indústria, que sofre com a concorrência dos produtos importados por causa da política cambial filicida e do custo da infraestrutura, o país consumiu mais energia. Particularmente, em 2011, o consumo de gasolina cresceu 18,8%, sendo que foram importados 13,8 milhões de barris, um crescimento de 300% sobre o ano anterior.

O consumo do diesel cresceu 4,4%, totalizando 64,5 milhões de barris, sendo que as importações foram de 58,7 milhões de barris, crescimento de 4%. Cadê o biodiesel? Outra oportunidade perdida pela nação. Ah! E eu me lembro das minhas professorinhas dizendo que o Brasil era a nação agrícola do futuro, alimentaria o mundo, forneceria energia... Que tristeza!

Outro fracasso no projeto do biodiesel é a produção de mamona que está cada vez menor, além de ficar restrita às pequenas propriedades. A mamona que já ocupou 215 mil hectares, hoje, restringe-se a 148 mil hectares. E ainda enfrenta a falta de máquinas adequadas. Cadê a política de inovação nacional? Por que não criam um prêmio para estimular os inventores nacionais?

Um grande problema do biodiesel é o uso da soja, que é um importante alimento. Diria que está na mesma categoria do milho usado fazer álcool nos Estados Unidos. Além disso, o custo estimado de produção de biodiesel de soja é de US$ 150 a US$ 190 o barril. Muito Caro!

Outro problema nacional que poderia virar riqueza é o óleo de cozinha usado. Como lixo é um terror para o meio-ambiente, mas ele pode ser convertido em biodiesel. O governo deveria mudar sua política que procura somente privilegiar a produção agrícola familiar e estender para as pequenas empresas. O BNDES já financiou usinas de biodiesel de óleo de fritura antes. O governo deveria financiar este tipo de usina em todas as cidades. O que esperam? Um sinal verde da presidente do país? Por favor, algum aliado desperte a presidente!

Outro setor que deveria ter a atenção do plano nacional é o biodiesel de gordura animal ou de sebo, tanto de bovinos como de frangos e suínos. Estima-se que no Brasil existam disponíveis 700 mil toneladas anuais de sebo bovino. Como vemos, muito poderia ser feito, usando poucos recursos públicos, mas nosso governo prefere cobrar mais imposto (e agregados) do álcool que da gasolina. Enquanto o biodiesel com tanto potencial, fica empacado, não no PAC, parado mesmo!

Mario Eugenio Saturno (mariosaturno.blog.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.

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