Mario Eugenio Saturno (foto)
É surpreendente como algumas coisas não funcionam no Brasil. Quando
ainda jovem, nos anos 1980, soube que as usinas de álcool queriam vender
energia elétrica (cogerada) usando um combustível barato, na verdade um
problema para as usinas, o bagaço da cana. Foi preciso o “apagão” de
dez anos atrás para obrigar o governo a aproveitar esse gigantesco
potencial energético até então desperdiçado.
O que não se entende bem é por que no Brasil o preço da energia elétrica
é tão alto? Para se ter uma ideia, o custo da energia fornecida à
indústria é 52% maior do que a média internacional, segundo mostra um
estudo da Agência Internacional de Energia (IEA). Em média, a indústria
brasileira paga R$ 329,00 por megawatt-hora (MWh) enquanto nos demais 27
países analisados tem um custo de R$ 215,50 por MWh. Nos Estados Unidos
da América a tarifa é de R$ 117,00 por MWh.
Isso é um grande absurdo, uma vez que nossa energia provem de usinas
hidrelétricas, já amortizadas, que é uma energia muito mais barata do
que a de combustíveis fósseis dos países industrializados. Certamente,
pagamos exagerados tributos e taxas. Isso vai refletir na
competitividade dos produtos brasileiros o que implica em menos emprego
no país. O grande bandido chama-se ICMS, o imposto sobre circulação de
mercadorias, e que é cobrado pelos Estados.
A alíquota média do ICMS sobre consumo de energia é de 25%, nãos se
esqueça que é do produto final, na verdade, o imposto é de 33%. Se o
leitor não entendeu, pegue três dedos, se somar um dedo a mais (do
imposto), esse dedo significa um terço ou 33% do conjunto (dos custos de
geração), o governo olha os quatro e diz que sua parte é somente um
quarto, 25%! Maravilha!
Não custa salientar que as novas hidrelétricas e fontes alternativas de
energia térmica e biomassa vendem energia a preços médios em torno dos
R$ 100 por MWh. E o Brasil tem um gigantesco potencial eólico,
principalmente onde falta água, no Nordeste do país. Também não custa
ressaltar que durante o período da seca em São Paulo coincide com a
colheita da cana, ou seja, há potencial para gerar dez vezes mais
energia que a usina nuclear Angra-2.
E por falar em cana, cuja produção está muito abaixo do que o país
precisa, podemos dobrar a produtividade do canavial apenas irrigando.
Certamente um investimento significativo, mas considerando que o BNDES
fica com dinheiro parado... E, mais, se utilizarmos tecnologia de
irrigação das raízes, reduz-se a necessidade de água para apenas um
décimo. Não custa lembrar que aumentando a produção aproveita-se melhor a
logística. Está na hora de voltarmos a ser auto-suficientes e
exportadores de álcool.
Já comentei em artigos anteriores o problema do biodiesel e o corte do
orçamento da Educação e da Ciência e Tecnologia. Se pensarmos bem,
veremos que tudo está relacionado e faz-se urgente que a sociedade,
principalmente deputados estaduais e federais e senadores façam ponte
com os Executivos para reduzir impostos e aumentar os investimentos, do
contrário, viveremos uma nova década de “recessão”, como foi a dos anos
1980.
Mario Eugenio Saturno (mariosaturno.blog.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário