Por trás do discurso de usuários defendendo os benefícios, a descriminalização e legalização da droga, se esconde o desespero de famílias desintegradas por causa do vício.
Dentre os usuários de maconha, os homens consomem três vezes mais que as mulheres e 62% experimentaram antes dos 18 anos. A consequência se vê na demora para responder algumas perguntas simples que revela uma das limitações de José*, 29 anos, cravadas ao longo de 14 anos consumindo maconha. Imperceptíveis para ele, os sinais do vício vem degradando seu relacionamento familiar, porém em sua visão, não é um problema na vida profissional.
José é convicto de que consegue parar de usar quando quer, que a maconha lhe traz benefícios e o único empecilho é a resistência de sua família em aceitar. Mesmo com tanta segurança, ele corresponde aos aspectos comportamentais comuns da dependência, apontados pelo II Segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas Lenad, como ficar ansioso e preocupado por não ter a droga, ter a sensação de perda de controle sobre o uso, já ter tentado parar e considerar difícil ficar sem a droga.
Os motivos pelos quais ele não muda as práticas ilícitas são pela maconha o socializar, acalmar e trazer a sensação de prazer. Ele justifica que nunca se internou, não tem nenhuma passagem pela polícia, consome antes, no intervalo e depois do expediente e paga a quantidade que utiliza.
Essa cortina de fumaça não o deixa enxergar o desespero da família. Sua mãe já o expulsou de casa, levou para igreja, e sofre com a displicência do filho que não vê problema em usar drogas. “Ele não tem prazer em estar com a família, o telefone não pára de tocar, depois chega em casa e come tudo que vê pela frente. Meu filho não tem mais vergonha disso e abre para todos o problema eu não sei mais o que pensar, mas eu não aceito”, desabafa a mãe.
Valentim Gentil Filho, psiquiatra doutorado em psicofarmacologia clínica pela Universidade de Londres, disse em entrevista à Revista Veja que “se fosse para escolher uma única droga a ser banida, seria a maconha”. Ele explica que os danos que outras drogas causam ao cérebro, como crack, cocaína e heroína cessam quando deixam de ser usadas. Ou seja, passado o período de abstinência, as funções do organismo se restabelecem.
“Com a maconha a história é outra. É a única droga a interferir nas funções cerebrais de forma a causar psicoses definitivas, mesmo quando seu uso é interrompido,”destaca o médico.
Famílias são o alvo das consequências das drogas. Considerando que mais da metade dos usuários experimenta a droga antes dos 18 anos, o Movimento Curitiba Te Quero Sem Drogas atua com a implementação de ações esportivas e culturais para atrair jovens à práticas saudáveis. Segundo o coordenador do projeto, vereador Valdemir Soares, que há mais de vinte anos levanta a bandeira da conscientização sobre os perigos das drogas, o esporte tende a afastar jovens do contato com as drogas.
“Na adolescência os jovens estão aprendendo a definir sua trajetória do futuro e incentivá-los ao esporte é um recurso decisivo no combate às drogas e na ressocialização de ex-dependentes. São realidades opostas e se motivadas as práticas saudáveis, extraem das estatísticas o número de tragédias relacionadas ao consumo de substâncias ilícitas e arrancam o sofrimento de muitos lares que vivem esse problema”, afirma Soares.
O problema se agrava quando se fala no facilitação do acesso à droga. A mestre em dependência química e coordenadora do II Lenad, Clarice Sandi Madruga, afirma que o uso da maconha na adolescência é extremamente nocivo. Para ela facilitar o acesso às drogas, aumenta o consumo e também a proporção que tem problema.
Em contrapartida, diversos jovens testemunham sua recuperação das drogas através de ações do Movimento Curitiba Te Quero Sem Drogas, que conta com o entrosamento de moças e rapazes da Força Jovem. Já realizaram, neste ano, a Seletiva Nocaute ao Crack, evento que reuniu diversas modalidades de artes marciais com exibição de videos e mensagens de conscientização contra as drogas, que lotou o Círculo Militar em Curitiba.
Jhonatan da Silva, 19 anos, é um dos resultados das competições promovidas pelo Movimento. Ele conta que a energia dos jovens o contagiou pra que escolhesse mudar. Foi um convite que o fez retornar muay thai e futebol e, hoje ele diz que vai levar o título da da Copa Libertadores do Crack; que tem 64 equipes com nomes dos bairros de Curitiba e passam por diversas estruturas esportivas da cidade nas realização das rodadas do torneio de futsal.
“Enquanto você usa drogas você se sente muito bem, acha que tem algum poder, mas o ano passado, um amigo que se criou comigo foi assassinado e eu quis mudar, mas eu passei muita vergonha com a chegada de policiais à procura de drogas dentro de casa, na presença da minha família”, relata o jovem.
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