sábado, 19 de março de 2011

IML em Curitiba: Geladeira virou “cemitério” para corpos de indigentes



Todas as denúncias feitas pelo Paraná Online sobre as péssimas condições de funcionamento do Instituto Médico Legal de Curitiba foram confirmadas nesta quinta -feira (17/03), pela Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que realizou uma vistoria no órgão. Também dois depoimentos foram colhidos e protocolados na OAB.

Em medida de urgência, a Ordem irá solicitar à Vigilância Sanitária uma vistoria nas saídas de esgoto do IML. “A porta da geladeira dos corpos fecha e sai aquele chorume. Os funcionários colocam sacos de limpeza para segurar e vão lavando e torcendo panos no esgoto. A grande preocupação é que isto vai direto para o esgoto normal”, conta Isabel Kugler Mendes, vice-presidente da Comissão.

Outra medida urgente é resolver o impasse para enterro dos corpos sem identificação. A diretoria do órgão confirmou que mais de 20 cadáveres já tem alvará da Justiça para serem sepultados como indigentes, mas a prefeitura alega que não tem terreno nos cemitérios municipais.

Equipamentos

Na sala de radiologia, a Comissão encontrou apenas dois aventais cobertos com chumbo em meio a outros já deteriorados. “Os funcionários, mesmo de outros setores, estão expostos à radiação, já que a sala não tem as mínimas condições de segurança”, relata Isabel.

O aparelho de raio-x é novo, mas o cromatógrafo, que identifica presença de substâncias tóxicas no organismo, está com defeito há meses. A informação foi confirmada pelo diretor do instituto, médico Porcídio de Castro Vilani.

“O equipamento ficou oito meses quebrado e mandaram para São Paulo, único lugar onde é possível arrumar. Quando voltou, tinham 1.500 exames atrasados. Trabalharam noite e dia para recuperar o serviço e o equipamento quebrou de novo. Desde novembro está parado”, ressalta Isabel.

De acordo com ela, os funcionários do necrotério utilizam guarda-pó de tecido e não possuem luvas ou sapatos especiais. Não há nenhuma proteção. As mesas de necropsia são como mesas de consultório, sem nenhuma estrutura para evitar o vazamento do sangue dos corpos.

“Dois corpos putrefeitos na mesa e descia aquele chorume para o chão, onde dali a pouco estariam médicos e enfermeiros caminhando. Na geladeira dos corpos sem identificação, é como se os funcionários pegassem sacos de lixo de 100 litros e jogassem aleatoriamente. Uma coisa terrível”, lamenta.

Nos laboratórios também falta espaço para trabalhar. As geladeiras que mantém as substâncias a serem examinadas ficam emparelhadas, deixando na sala disponível apenas um corredor pequeno para que os funcionários realizem os exames. O prédio, com mais de 30 anos, não tem espaço para reforma.

Também faltam funcionários. De acordo com Vilani, o Paraná inteiro precisaria de 160 médicos legistas e possui apenas 73. “Faltam profissionais em todas as áreas. Os que ainda trabalham lá são verdadeiros heróis, que não recebem sequer a insalubridade. É um verdadeiro descaso”, frisa Isabel.

O relatório da vistoria deverá ser concluído até o início da próxima semana. Com ele, o presidente da comissão, Juliano Breda, irá se reunir com a diretoria da OAB e definir as medidas a serem solicitadas à Secretaria de Segurança Pública, ao poder judiciário e ao Ministério Público.

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